quarta-feira, 12 de outubro de 2011

To Jobs or not to Jobs...

As velas virtuais acessas nos vários cantos do mundo em homenagem a Steve Jobs talvez nos indique que esta é a primeira grande perda da juventude de hoje. Ele era uma espécie de POP Star, um ícone desta nova geração de inteligências humanas. Por que tememos tanto a tecnologia? Falo por mim, pela minha resistência a olhar um mundo em que a exuberância das imagens e a velocidade da informação predominam. Jobs, mesmo com sua morte precoce, foi além de seu tempo. Já deve estar trocando ideias com Stanley Kubrick sobre os destinos do homem neste século. Contudo, dois incríveis curiosos vieram se juntar a eles: Einstein e Freud. Esses últimos não poderiam perder tal discussão.
Enquanto isso, aqui embaixo, dialogo com Jabor. O Jabor de meu jornal matinal é uma espécie de interlocutor privado, sucessor do meu “amigo invisível” de minha infância. “Steve Jobs criou uma ‘ciência alegre’”, escreveu ele ontem no Globo. Enfim, há ciência num mundo dominado por enunciados pseudocientíficos.
Demorei a perceber que durante muito tempo me comportei como um religioso ortodoxo que trata a novidade como coisa do diabo. Hoje, escrevo no meu impensável Netbook. Jabor cita Marx: “O capital não cria apenas objetos para os ‘sujeitos’ consumirem, mas cria também ‘sujeitos’ para os objetos de consumo”. Jobs reinventou o consumo, as velas virtuais acessas em iPads nos demonstram isso: as imagens possíveis por uma tecnologia digital expressam um sentimento tão antigo, como o da dor e da comoção diante de uma perda.
Nossos filhos não querem destruir os museus, embora eles (os museus) exibam o domínio, muitas vezes violento, de alguns povos sobre outros. Nossos filhos não querem apagar o passado. Eles querem chegar lá de outra maneira, como no filme De volta para o futuro. Eles contam com uma tecnologia fabulosa que os levarão além de nosso sistema solar. Mas, como Kubrick acabou de afirmar a Jobs, soube pelo facebook, o homem vai evoluir mantendo tão somente seus impulsos mais primitivos. Einstein encaminhou, por sua vez, um MSN revelando que foi Freud quem soprou no ouvido do cineasta.
Meu filho não conheceria o Kubrick de O Iluminado, Charlie Chaplin, Hitchcock, Beatles, Mutantes e Novos Baianos se não fosse através da tecnologia desenvolvida por Jobs: seus iPods, iPhones e iPads. A tecnologia, utilizada pelo meu filho, o aproximou do mundo de minha própria adolescência. Ao contrário de sucatear a estética de meu tempo, a tecnologia desenvolvida por Jobs a valorizou.
Então, por que tememos a tecnologia? Nós, psicanalistas, falamos tanto da economia do gozo; digo o consumo instantâneo de tudo que produz não prazer, mas, “mais além de prazer”. Entretanto, estamos remetidos nostalgicamente a um suposto tempo em que a Lei sustentada pela figura do Pai vigorava de forma ideal. A lógica que deu origem aos computadores é a mesma que está em jogo para a Psicanálise, nos demonstra Lacan. Trata-se da lógica binária do zero e do um. Ou a função opera ou ela não opera. E os elementos estruturais presentes nessa função são: o Pai, o significante falo e a castração. A função é necessária, mesmo assim, não garante, ela é “não toda”. Não por acaso, os matemáticos criaram os números reais. Jobs criou sua ‘ciência alegre’ na mínima liberdade dos milésimos que desmentem os números inteiros. Com Jobs teremos deixado de ser cartesianos para sermos mais inventivos? To Jobs or not to Jobs...
12/10/2011

Um comentário:

  1. Parabéns Abílio, pelo texto e pala iniciativa de, finalmente, dividir seus pensamentos! Vou ser um leitor cativo!
    bjão irmão

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