terça-feira, 5 de março de 2013

Pornografia e erotismo

Escrevi recentemente sobre a Sick-Lit ou a Literatura enferma cujos protagonistas são adolescentes deprimidos, suicidas, anoréxicos e etc. Ontem, no Segundo Caderno de O Globo, o autor do recém-celebrado Barba ensopada de sangue, Daniel Galera, nos indicou o romance da canadense Tamara Faith Berger: Maidenhead (inédito no Brasil). O romance gira em torno da submissão sexual de Myra, uma jovem de dezesseis anos, fascinada por Eliajah, um músico africano bem mais velho. Galera cita Bataille e Sade, mas dá destaque para a pornografia engajada da atriz Sasha Grey. Eu não gostaria de reproduzir a coluna de Galera. O objetivo desse pequeno comentário é dividir com vocês uma questão suscitada por minha leitura em articulação com o que chamei, em meu último texto, de uma literatura comercial erótica: qual a fronteira entre pornografia e erotismo? Nem sempre foi evidente esse limite. A internet tratou de separar definitivamente esses campos. Muitos garotos não tiveram a sorte de folhear as famosas e picantes revistas suecas ou dinamarquesas nos Anos 70. Hoje, a pornografia disponível na rede para o onanismo privado e desenfreado faz todo o esforço dos meninos daquela geração parecer uma piada. A pornografia hoje está associada ao uso, comércio e franquia de imagens e filmes de sexo e nudez explícitos (seria o caso de um pleonasmo? Tenho dúvidas). Galera fala de uma pornografia engajada em Sasha Grey, pois ela vê o pornô como ato político. O romance de Berger, segundo Galera, toca na questão das diferenças, segregações e conflitos. O colunista não põe esta obra, definitivamente não, dentro da categoria de livros comerciais eróticos. Contudo, o relaciona ao paradigma de Grey, a atriz político-pornô. Permanecemos, assim, próximos dos paradigmas do pornográfico. E o erotismo? Qual a fronteira entre pornografia e erotismo_ repito? O erotismo presente desde muito cedo nas obras de arte não se reduz à representação ou reprodução da cena da cópula, do ato ou do sexo. O erotismo não se reduz ao explícito, mas, ao contrário, àquilo que não se dá a ver, ao que se insinua ou ao enigmático. A erótica de Freud afirma-se dessa maneira. Ele jamais reduziu a subjetividade à mecânica do sexo. Freud ousadamente nos interroga sobre o sexual: do que goza o sujeito? Ele introduz a dimensão fundamental da fantasia. O erotismo talvez não interrogue o onanista, entretanto, interroga o espectador de uma obra de arte ou o leitor de um romance. O enigma talvez esteja presente na pornografia e no erotismo, porém, na pornografia está a serviço do uso, do “goza”, no erotismo, sim, o enigma cava um furo sobre o qual será tecida a fantasia. Outrora, eu tive a sorte de folhear umas revistas suecas, contudo, fui mais afortunado ao me surpreender com um não saber, com o enigma sobre o sexual. 05/03/2013

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